Entrevista – Raquel do Amaral Rangel – Quebrando o Silêncio Violência contra crianças

O perigo tem morado em casa

As violências contra as crianças cresceram, a maioria dos agressores são parte ou próximos da família e a pandemia obrigou os pequenos a ficarem mais tempo na (in)segurança dos seus lares. 

Por Thiago Basílio

Junto com o vírus transmissor da Covid-19, outra pandemia segue persistente e igualmente destrutiva nesse período: a violência contra crianças. Dados de órgãos governamentais e institutos especializados constam que aumentaram as ocorrências de denúncias sobre abusos físicos, psicológicos e sexuais a menores. E o pior de tudo: a maioria dos agressores está dentro ou próximo da família. 

Para abordar melhor a problemática, conversamos com a psicóloga Raquel do Amaral Rangel, que é especialista em  Psicologia Hospitalar e mestre em Saúde pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A profissional agrega uma experiência de quase 15 anos no atendimento focado em crianças, trajetória que lhe confere autoridade para falar sobre tal assunto, que tem assombrado a infância na atualidade. 

Quebrando o Silêncio – O Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos do Governo Federal verificou uma média diária de 260 denúncias de violência contra crianças e adolescentes durante a pandemia, o maior crescimento desde o ano de 2013. Como e por quais motivos esse problema foi agravado no país?

Raquel Rangel – Os dados mostram um aumento de mais de 50% de denúncias de violência contra crianças e adolescentes. O fato das crianças estarem em casa, sem aulas, contribuiu muito para esse número alarmante. As crianças ficaram vulneráveis e sofrendo sozinhas. Outro ponto importante para o aumento desse número foi que, sem o olhar atento dos professores (muitas denúncias são feitas pela escola/professores), as crianças ficaram ainda mais desprotegidas.

QS – Quais são os principais sinais de que uma criança sofre algum tipo de violência?

Raquel – A criança vítima de abuso sempre tenta se comunicar de alguma maneira.  É muito importante estarmos atentos aos comportamentos dessa criança, esse pode ser o primeiro sinal que algo não vai muito bem. Mudanças repentinas de humor, agressividade, medo, timidez excessiva, comportamentos infantilizados (por exemplo, voltar a fazer xixi na cama), sono, falta de concentração. Algumas crianças também podem manifestar doenças físicas como: vômito, dor de cabeça, erupções na pele. 

QS – Seguindo os padrões que você observou ao longo da sua carreira profissional, qual é o perfil dos agressores e abusadores?

Raquel – A violência costuma ser praticada por pessoas da família ou próximas da família, na maioria dos casos. O abusador muitas vezes manipula emocionalmente a criança, que não percebe estar sendo vítima e, com isso, costuma ganhar a confiança fazendo com que ela se cale.

QS – Além dos traumas físicos, as sequelas psicológicas são muitas, com danos sérios e prolongados. Fale um pouco sobre alguns desses possíveis problemas.

Raquel – Uma criança vítima de abuso pode desenvolver muitos transtornos emocionais. Sentimento de desvalia e desamor são bem comuns. Pode-se desenvolver também um quadro depressivo ou ansioso e, em casos mais graves, é possível apresentar sintomas de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT).

QS – Qual é o limite entre a disciplina e violência física ou psicológica?

Raquel – Disciplina e violência são bem distintas. O limite está na demonstração de amor, de afeto. É completamente possível dizer não, ensinar, sem usar de violência física e/ou emocional. 

QS – Qual é o papel de cada cidadão diante dessa problemática tão covarde, cruel, criminosa e destrutiva que é a violência contra as crianças?

Raquel – Se você testemunhar, souber ou suspeitar de alguma criança ou adolescente vítima de negligência, violência, exploração ou abuso, precisa denunciar! Existem canais exclusivos e seguros para que essa denúncia seja feita. Não se cale jamais!

Ministério da Mulher  – União Sudeste Brasileira
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