Assim como as doenças que assolam o mundo, a violência, seja ela física, psicológica, de gênero ou social, atinge a todos. Com a pandemia, dentre tantas crises despertadas, foi perceptível o aumento de casos de violência, devido ao fato de o isolamento social revelar muitos problemas no lar.
Um levantamento realizado pelo instituto de pesquisa Datafolha, encomendado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, “indicou que caiu a violência na rua e aumentaram as agressões dentro de casa. Em 2021, o vizinho, que em 2019 ficou em segundo lugar como autor das agressões (21%), neste ano sumiu das respostas. Em seu lugar apareceram o pai, a mãe, o irmão, a irmã, o padrasto, a madrasta, o filho e a filha”.
Vale apontar que a violência doméstica não escolhe classe social. Ela alcança toda a sociedade, independente do grau de escolaridade. A respeito da violência contra a mulher, a Juíza Maria Aparecida Cury destacou, ao contrário do que a maioria pensa, que a violência doméstica não se concentra nas classes menos favorecidas ou entre mulheres de baixa escolaridade. Após analisar os dados coletados pela Patrulha Maria da Penha no ano de 2017, em Boa Vista, Roraima, a juíza afirma que dos 533 casos, 69,64% das vítimas possuem ensino superior completo, incompleto ou ensino médio completo. Cerca de 29,76% das vítimas têm o ensino médio incompleto, o fundamental completo ou incompleto e apenas 0,60% não são alfabetizadas. “É mito dizer que a mulher que tem menos escolaridade é a que sofre mais violência doméstica. A violência está em todo canto, a diferença é que as mulheres das classes mais baixas denunciam menos, mas isso não quer dizer que ela não exista. A violência contra mulher existe em todas as classes sociais”, diz a juíza.
No entanto, a violência doméstica não tem atingido somente as mulheres, apesar de elas serem as vítimas mais frequentes. Homens, idosos e principalmente crianças têm sido vítimas de agressões verbais e físicas. Quantos pais não ficaram revoltados com o caso Henry Borel, um menino brasileiro, de quatro anos, que foi assassinado no dia 8 de março de 2021, na Barra da Tijuca, Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro?
Diariamente, diversas pessoas sofrem com a violência no mundo. Independente de quem seja a vítima e de quem seja o agressor, a questão é impedir que a violência continue. A denúncia por parte da vítima ou de outra pessoa que presencie a violência é de suma importância, e deve ser feita no primeiro sinal de agressão. Os serviços de proteção devem ser imediatamente acionados, como o Disque Direitos Humanos (número 100 ou 180), a Polícia Militar (número 190) ou o Conselho Tutelar da cidade. Não é fácil denunciar, principalmente quando o agressor é íntimo da vítima. Por isso, devemos estar atentos a qualquer sinal suspeito à nossa volta.
Entretanto, apesar da facilidade de informação disponível hoje com o recurso da tecnologia, muitas pessoas ainda parecem não compreender o que significa violência. Como saber, afinal, se alguém está sendo vítima de violência em casa ou no trabalho?
De acordo com o artigo 5º da Lei Maria da Penha, “[…] configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”. Embora essa Lei seja específica a respeito da violência contra a mulher, vale frisar que a violência doméstica, seja ela física, psicológica, moral, sexual ou patrimonial, pode acontecer com qualquer um, a despeito do sexo, idade e classe social, e traz graves consequências para a pessoa e para a família.
A violência doméstica contra a criança e o adolescente, porém, vai além, pois configura-se tanto pelo ato, como também pela omissão, praticado pelos pais, parentes ou responsáveis, capaz de causar dano físico, sexual e/ou psicológico ao menor. Ela ocorre, em suma, quando o adulto foge do seu poder e dever de proteção. O atual Direito Constitucional da Infância e Adolescência, expresso no Brasil pela Constituição Federal de 1988, em seu artigo 227, prescreve: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à saúde, à vida, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.
Quando Einstein perguntou a Freud o que se poderia fazer para evitar aos humanos o destino da guerra, este apontou a educação, para que a vida impensada fosse dominada ao domínio da razão, argumentando que as mudanças psíquicas que acompanham a evolução cultural são notáveis. Mas se o ambiente inicial da criança não pratica a estima pelo outro e o respeito às leis, isso será internalizado e repetido por ela.
Na Bíblia, encontramos diversas passagens que orientam uma postura correta em relação a esse assunto. Mateus 26:52 diz: “Então Jesus lhe disse: ‘Mete a tua espada no seu lugar; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão’”. Aqueles que são filhos redimidos por Deus refletem o Seu caráter de amor. Assim, todo seguidor de Cristo deve ser conhecido como pacificador. Provérbios 31:8 descreve: “Abre a tua boca a favor do mudo, pelo direito de todos os que se acham em desolação”. Outras pessoas dependem de você, e é seu dever defendê-las e ajudá-las. Em 1 João 3:18 encontramos: “Meus filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas por atos e em verdade”.
Se fizermos a nossa parte, muitas vidas poderão ser salvas e muitas outras poupadas de traumas que afetam as futuras gerações. Envolva-se e promova ações contra a violência. O Projeto “Quebrando o Silêncio” é uma ótima iniciativa. Um dos seus objetivos é “Orientar as famílias, pais e filhos, educadores e alunos sobre o assunto, levando esclarecimento quanto a seus direitos e alertando quanto à necessidade de quebrar o silêncio e buscar junto aos órgãos competentes o apoio necessário”. Ele é promovido anualmente pela Igreja Adventista do Sétimo Dia em oito países da América do Sul, desde o ano de 2002.
Informe-se junto aos órgãos públicos da sua região e na comunidade religiosa que frequenta a respeito da existência de projetos e campanhas para o combate à violência. Fique atento às pessoas ao seu redor, pois elas podem estar passando por algum tipo de agressão. É necessário que a população se informe sobre esse assunto, denuncie e procure ajuda de um profissional. Precisamos quebrar esse ciclo.
Priscila Prazeres Clementino Viana